Músico mistura punk com toques de rock alternativo à frente da banda Explain Away
Fotos por Fabio Margutti
As composições e linhas de guitarra criadas por Eduardo Sabaté a frente do Explain Away, são a mistura perfeita de punk com toques de rock alternativo, que acabam por refletir em uma música com temas decorrentes do dia a dia.
O power-trio abraça em suas letras uma honestidade totalmente relacionável, juntamente com batidas de punk intensas e a abordagem harmoniosa do rock alternativo.
O guitarrista e vocalista da banda constrói sua base na criação de um som emocionalmente carregado, poético e provocativo que exerce sua intensidade em uma abordagem musical intensa, ao estilo da poesia que explora os simples contratempos da vida cotidiana.
O grupo que foi formado em 2014, mistura punk, grunge e alternativo dos anos 90 com uma pegada própria e visceral. Letras realistas e reflexivas sobre as consequências do nada fácil cotidiano das grandes cidades e saúde mental, com um instrumental agressivo que correspondem aos temas tratados.
Marcando a nova fase do power-trio, Explain Away lançou no começo do ano a faixa "Cause We" via Electric Funeral Records em todas as plataformas de streaming, mostrando um caminho de composição, melodia e reflexão diferente, criando combinações melódicas com sua pegada punk rock californiana, apresentando um som maduro e sincero.
Conversamos com o músic Eduardo Sabaté sobre sua banda, influências musicais, backline, processo de composição, entre outras curiosidades. Confira!
Você e o Explain Away apresentam uma sintonia e criatividade fora do comum. Como que funciona a parceria de vocês como músicos e amigos dentro do projeto? Como começou essa parceria?
Eduardo: Desde meus 14 anos estive em bandas com amigos, e nunca conseguir parar esse vício. Mesmo que depois de adulto fosse se juntar final do expediente com amigos num estúdio e fazer jams, tomar umas cervejas pra relaxar tocando um punk rock…e o Explain Away surgiu da última experiencia deste tipo, quando eu trouxe algumas músicas autorais que tinha feito anteriormente e ficaram paradas pra um destes ensaios e foram tomando uma forma maior que o esperado. Nosso antigo baixista, o Cattuzzo, trouxe o André Prates pra uma destas sessions em 2014, e o quebra-cabeças tava finalizado com tudo se encaixando em bons papos, sintonia de bandas que curtimos e afinidade crescendo tanto musicalmente quanto no âmbito da amizade e cumplicidade. Hoje em dia com o Italo no baixo, não é diferente, somos bons parceiros musicais alinhados com o propósito da banda e bons amigos que curtem tomar uma breja, falar de música e ver nosso progresso sendo refletido nos trabalhos do Explain Away.
Dentro do cenário do rock, punk rock e pop punk brasileiro, você costuma acompanhar bandas com trabalho autoral? E sobre as estrangeiras, alguma atual que tenha lhe chamado a atenção ultimamente?
Eduardo: Sim, claro! E ainda tenho a chance de dividir palco com algumas delas e fazer bons amigos: Mocho Diablo, End Of Pipe, Mudhill, Wiseman, Dum Brothers, Comodoro, Combover, EDC, Running Like Lions, Loyal Gun, Letall, Backdrop Falls, Statues On Fire, Autoramas, Angular, Old Books Room, Rocca, The Gap Year, Blocked Bones, Bloco do Caos, The Bombers, Pin Ups….tem tanta banda boa aqui no nosso país!
Ultimamente, tenho descoberto algumas coisas que tenho gostado bastante, algumas delas que passaram desapercebidas sem a minha devida atenção nos últimos anos; Tusky, Basement, Rozwell Kid, My Vitriol, No Knife, Rival Schools, Joyce Manor, Wraths, The Black Pacific, Bender, Bully e o último disco do The Menzingers está fenomenal. Porém, confesso estar escutando coisas mais pesadas no momento; Mastodon, Windhand, We Hunt Buffalo, Red Fang e afins.
Que dica você daria a músicos brasileiros da cena, que tem medo de experimentar e inventar coisas novas em suas músicas?
Eduardo: Eu sigo um lema pessoal: Se alguém já fez, não repita isso. Se você já fez, não se repita. Escute de tudo (eu vou de Motown até Stoner, passando por anos 40, 50, 60, 70, 80 e alternativo dos 90), referência é tudo na hora de compor, e quanto mais você tiver para misturar, melhor ficará quando você colocar no seu liquidificador mental. Quanto mais diversidade de ritmos, timbres, dinâmicas, letras sua banda tiver, mais completo como músicos vocês serão. A experiência de testar alternativas musicalmente é uma das melhores terapias.
Qual modelo e marca de guitarra, cordas e amplificador você usa? Conta pra gente a relação de amor com seu instrumento.
Eduardo: Minha primeira guitarra, inclusive minha preferida e que gravei o Collective Loneliness, é uma Peavey Falcon Series Stratocaster 1994, que modifiquei com ferragens e elétrica Fender, e com um Humbucker Seymour Duncan SH-4…é muito versátil e tem um vínculo emocional muito grande comigo há 26 anos. Minhas secundárias são uma Epiphone customizada para Les Paul Jr com captador P90 também da Seymour Duncan, uma Telecaster Squier original. Tenho outras duas, mas raramente entram em cena pro Explain Away, ficam mais em casa, um Les Paul que comprei de um amigo e não sei a marca até hoje, e uma Giannini 1983 que ganhei de um outro amigo que se mudou de país.
Cordas eu sempre uso Ernie Ball 0.10 e palhetas Dunlop Tortex 0.73.
Amplificadores, revelo minha paixão pelas marcas britânicas como Orange, Vox e Marshall, porém, tenho uma queda forte pelo Fender Twin Reverb.
Pedais, no meu set atual uso afinador Korg Pitchblack, Noise Gate Silencer da EHX, oitavador Pitch Fork da EHX, fuzz da MG MgMuffFeliz (mas ainda vou substituir por um Muffasaur da DeepTrip Pedals), overdrive Soul Food da EHX, pra distorção o Sansamp GT2 da Tech21, Phase 90 da MXR, delay Carbon Copy também da MXR e o Wet Stereo Reverb da Neunaber fecha o circuito com duas saídas que divido em 2 amplos 4x12” nos shows.
Minha paixão pelo instrumento surgiu quando eu vi meu pai tocar o riff de Day Tripper dos Beatles no violão quando eu era bem criança, numa festa nos fundos de casa numa roda de amigos e todos os convidados dos meus pais cantando juntos, tomando umas…isso era meio dos anos 80, e eu lembro claramente do meu pensamento na época; “Putz, é isso que eu quero fazer!”. Só que pra não perder a magia do momento, eu nunca quis saber tocar essa música até hoje rs.
Quais são as suas maiores influências musicais? Pra você qual é o maior guitarrista e frontman de todos os tempos?
Eduardo: Respira: Beatles, Bad Religion, Everclear, Helmet, Smashing Pumpkins, Black Sabbath, Ramones, Rocket From The Crypt, Green Day, Pennywise, Rancid, Samiam, NOFX, Social Distortion, Offspring, Third Eye Blind, Thrice, Silverchair, Refused, Elton John, Faith No More, Nirvana, Hüsker Dü, Lit, The Clash, Metallica, Jets To Brazil, Jawbreaker e Aimee Mann (senão não paro, como dizem o André e o Italo; “Segura o Crackinho!”).
Maior guitarrista pra mim é o Billy Corgan do Smashing Pumpkins, sintetiza o peso do Black Sabbath com a intensidade emocional nos timbres e pegada nas melodias.
Frontman tenho um páreo duro entre Greg Graffin do Bad Religion, que não dá show, dá aula…parece uma palestra as apresentações da banda. E o Billie Joe Armstrong do Green Day que tem o maior controle consistente e consciente sobre uma platéia de gerações diversas que eu já vi na vida. Pode ser empate técnico a resposta desta pergunta?
Suas linhas de guitarra demonstram um combinação de técnica e criatividade. Você sempre compõe e cria as músicas pensando de forma analítica ou elas acabam saindo naturalmente desse jeito?
Eduardo: Pra ser bem sincero, eu devo ser o guitarrista mais preguiçoso do mundo, raramente sento e pratico ou penso: “Vou ali fazer uma música agora!”. Minhas guitarras e violões ficam nos suportes perto dos sofás, geralmente, de sábado ou domingo de manhã pego um dos instrumentos enquanto tomo café e começo a tocar sem muito objetivo…ai um acorde puxa o outro, uma palhetada pede naturalmente uma sequência, ai vou construindo com base meio no feeling do dia mesmo, organicamente…e quando tenho pelo menos uma intro, estrofe e refrão…gravo, anoto e levo pros ensaios. Ai sentimos a direção que a música nos pede, e vou inserindo linhas vocais, construindo e dando ideias em cima deste alicerce. Não gosto de trazer tudo pronto, o Explain Away sempre foi e sempre será 3 pessoas trabalhando juntas, só inicio o processo com um rascunho, e escrevo as letras só depois da música estar basicamente pronta e me dizendo o que falar na atmosfera do resultado melódico.
Como a música surgiu em sua vida?
Eduardo: Meus pais sempre escutaram muito Beatles, Chitãozinho e Xororó, Creedence Clearwater Revival, Tim Maia, Lulu Santos e Guilherme Arantes quando eu era criança. Meu Pai trabalhou muito anos na Phillips e trazia aparelhos de som para testes, junto com LP`s, Fitas K7 e depois CD`s, e quem ouvia mais esse material era eu…lembro que o primeiro CD que vi na vida foi do Alceu Valença e o segundo foi do Tears For Fears, então imagina a variedade de estilos que eu fui indiretamente apresentado na época, final dos anos 80.
No meio dos anos 90, minha irmã e eu fazíamos conservatório de violão clássico. Ela um horário antes que o meu, e eu e minha mãe esperávamos dar o horário dela no carro para eu poder entrar na aula (um aluno por vez), e numa dessas vezes esperando, eu mudando o dial do rádio, me deparo com 3 acordes distorcidos e aumento o volume…como eu já sabia identificar acordes devido às aulas, fiquei reparando que era muito simples aquilo, mas era genial, era o que eu precisava saber fazer…não ficar ali naquelas aulas lendo partituras, teoria, solfejos…falei pra minha mãe: “Mãe, é isso aqui que eu quero fazer, não essas aulas…quanto a senhora tá gastando por mês aqui? Vamos cancelar minhas aulas e com essa última mensalidade e o dinheiro que tenho guardado dos presentes de aniversário que ganhei dos meus avós, conseguimos comprar uma guitarra?”. A música da rádio era Blitzkrieg Bop do Ramones, a guitarra que comprei no mês seguinte é a minha Peavey. Ou seja, a culpa disto tudo é dos meus pais! Serei eternamente grato pelo ambiente de escolhas musicais que eles me deram.
Qual foi o melhor show da história do Explain Away? Conta pra gente.
Eduardo: Difícil escolher, tanto lugar que tocamos que moram nos nossos corações (Estúdio Aurora, Nimbus, Casamarela, Hangar…). Porém o mais marcante pra banda foi o do lançamento do nosso primeiro disco lá no Teatro Sérgio Cardoso, sem dúvida! Todos nossos amigos, famílias e novas pessoas que conhecemos por lá, marcaram uma noite incrível que vai ficar pra nossa história. Um marco ter a oportunidade de uma banda de rock tocando nesse local tão tradicional pra cidade.
Qual é a sua faixa favorita da banda?
Eduardo: Olha, toda vez que toco Empty Colors, me dá um nó na garganta muito forte…essa música tem uma carga emocional bem pesada pra mim, então deve ser ela.
Quais os planos para 2020? Alguma previsão de lançar material inédito?
Eduardo: Cenário desafiador pra qualquer um, ainda mais para bandas, que precisam estar juntas em locais fechados para ensaiar, produzir, gravar e claro, fazer shows!. Ainda estamos na incerteza, até a vacina sair…estamos todos em casa. Demos um pause no início da quarentena, mas dou um recado que temos pelo menos umas 8 músicas novas na agulha….fora o que ainda estamos construindo na paralela do isolamento social. Queremos muito que tudo isso passe para retomarmos as atividades, e realizar nosso grande sonho de Tours mundo afora promovendo nossos próximos trabalhos.
Confira "Cause We":
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